O Proterozoico é o éon mais longo. Começa aos 2500 milhões de anos (Ma) e termina aos 541 Ma. É durante o Proterozoico que a Terra como hoje a conhecemos se desenvolve. Foi durante este éon que a atmosfera se tornou rica em oxigénio, que o regime atual de tectónica de placas se estabeleceu e no qual a vida multicelular emergiu. O Proterozoico é geralmente dividido em três eras: Paleoproterozoico, Mesoproterozoico e Neoproterozoico. O termo Proterozoico significa 'vida mais antiga'. Durante o Proterozoico o manto da Terra arrefeceu de modo a permitir o desenvolvimento de uma litosfera relativamente coerente. No entanto, ainda hoje é debatido quando se terão individualizado as primeiras placas tectónicas e quando se terá formado o primeiro mosaico global de placas. Como vimos antes, no Arcaico já havia algum movimento e deformação da superfície do planeta, mas provavelmente estes não seriam estáveis nem globais. A tectónica de placas terá emergido progressivamente durante o Proterozoico, ao mesmo tempo que as novas zonas de subducção se tornavam cada vez mais eficientes na reciclagem da litosfera oceânica. Placas mais rígidas implicavam uma maior flutuabilidade negativa da litosfera, uma maior coerência e uma maior eficiência na transmissão de tensões ao longo das placas, o que evitava que estas se desintegrassem ao mergulhar no manto. Por outro lado, a coerência das placas e a transmissão de tensões ao longo destas são essenciais para que a força de slab-pull, uma das principais forças motrizes da tectónica de placas, seja capaz de atuar ao longo das placas. Pensa-se que já existiria um mosaico global de placas tectónicas há ~1000 Ma, com uma tectónica de placas operacional. É também fonte de debate quando é que se terão formado os primeiros continentes. Aqui há duas perspectivas dominantes. Uma sugere que se formaram, na sua maioria, durante o Proterozoico, enquanto a outra afirma que a crusta continental já existiria em abundância no final do Arcaico. Qualquer das formas, é provável que durante o Proterozoico já existisse alguma forma de ciclos de Wilson e de ciclos de supercontinentes, marcados por episódios de fragmentação e de agregação de grandes massas continentais. O primeiro supercontinente para o qual há uma evidência sólida ter-se-á formado durante o Paleoproterozoico, há cerca de 1800 Ma. O supercontinente Nuna, também conhecido por Columbia, resultou de um evento de colisões a grande escala entre os continentes primitivos. Há fortes evidências da formação de montanhas (orogénese) resultantes destas colisões. A Nuna ter-se-á começado a fragmentar por volta dos 1400 milhões de anos. Durante o Neoproterozoico, formaram-se ainda outros dois supercontinentes, a Rodínia, há ~1000 Ma e Pannotia, há ~600 Ma. O Grande Evento de Oxigenação ocorreu no Paleoproterozoico, entre os 2400 e os 2200 Ma, e consistiu no rápido aumento de oxigénio livre na atmosfera, produzido por cianobactérias através da fotossíntese. Isto, por sua vez, levou à extinção de muitas espécies anaeróbias. Este evento deixou uma marca no registo geológico caracterizada pela ocorrência de grandes depósitos de óxidos de ferro, conhecidos por BIFs (Banded Iron Formations, ou Formações Ferríferas Bandadas, em português). Este episódio, juntamente com a emergência da tectónica de placas, terá dado origem a mudanças climáticas importantes, que envolveram o arrefecimento da atmosfera. A primeira grande glaciação da Terra terá ocorrido no início do Paleoproterozoico, há cerca de 2300 Ma. Há evidências de terem ocorrido ainda três grandes glaciações durante o Neoproterozoico. Duas dessas glaciações, conhecidas por Sturtian (~720 Ma) e Marinoan (~650 Ma), foram quase globais e poderão ter levado a Terra a entrar num estado de 'Bola de Neve'. Uma Terra Bola de Neve acontece quando a superfície da Terra se encontra quase totalmente congelada. É devido a este facto que o período da história da Terra entre os 720 e os 635 Ma é denominado de Cryogénico. O facto de, neste período, uma grande parte dos continentes se encontrarem em torno do Pólo Sul, pode ter contribuído para esta sequência de glaciações. É de notar que a Rodínia formou-se nesta zona do globo por volta dos 1100 Ma, e que grandes massas continentais aí se mantiveram até há cerca de 600 milhões de anos. Inicialmente, no Proterozoico, a vida não era muito diferente da do Arcaico, com colónias de cianobactérias e uma grande variedade de procariontes anaeróbicos. Os estromatólitos expandiram-se pelo mundo, mas entraram em declínio no final do Proterozoico. O aparecimento de seres eucariontes unicelulares e de vida multicelular coincide com o aumento de oxigénio livre na atmosfera, entre os 2100 e os 1600 Ma. As primeiras evidências de eucariontes com organelos e células complexas datam de há 1850 Ma, e há 1700 Ma já existiriam organismos multicelulares. As primeiras plantas terrestres terão colonizado as margens dos continentes há cerca de 1000 Ma. Os primeiros organismos complexos aparecem aos 635, formando a Fauna de Ediacara, que existiu até há cerca de 541 milhões de anos. Este período é denominado de Ediacárico e marca o fim do éon Proterozoico. #geologia Partes do texto adaptadas de: Duarte, J.C., 2023. A timeline of Earth's history. In Green., M., Duarte, J.C., eds, A Journey Through Tides, 117-131. Elsevier Books. https://doi.org/10.1016/B978-0-323-90851-1.00010-8 Imagem: Terra no Proterozóico durante um período de glaciação. Crédito: Oleg Kuznetsov, via Wikipédia.
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