(Texto especialmente direccionado a professores de geologia) Não se deve confundir fronteiras de placas divergentes, convergentes e transformantes com fronteiras de placas distensivas, compressivos e cisalhantes. A primeira está correcta, e a segunda pode não estar. Porquê? Vamos por partes. O conceito de placas rígidas é uma aproximação. Mas é uma boa aproximação. E, em geral, as placas são limitadas por zonas de fronteira relativamente bem definidas. As placas movem-se umas em relação às outras, podendo aproximar-se, afastar-se ou passar lateralmente uma pela outra. Reparem que até aqui estamos a falar apenas de movimento relativo, como deve ser. Se pensarmos a duas dimensões, quando olhamos para um mapa, faz sentido dizer que quando duas placas se aproximam uma da outra a aproximação causa compressão. Isto acontece porque num mundo a duas dimensões as placas não têm para onde ir. Mas há dois problemas. O primeiro é que o mundo não é bidimensional. Se considerarmos a terceira dimensão, uma placa pode mergulhar por baixo da outra sem que haja grande “colisão”. Uma analogia é quando deslocamos uma folha por baixo de outra. Estas podem deslocar-se sem que haja grande deformação, desde que uma passe por baixo da outra. É isto que acontece nas zonas de subducção. Uma placa mergulha sob a outra, sem que haja, necessariamente, colisão. O outro problema tem a ver com uma distorção histórica. Antes pensava-se que eram as correntes de convecção que causavam o movimento das placas, e que estas eram transportadas passivamente umas contra as outras. E quando estas colidiam, gerava-se compressão nos seus contactos. Mas hoje já não pensamos assim. Hoje sabemos que as forças que fazem mover as placas geram-se, de facto, junto às zonas de fronteira de placas. Um exemplo é o slab-pull. Ora, isto muda tudo. Se na natureza a placa que subducta fosse empurrada contra a placa cavalgante, isso poderia gerar compressão. Mas numa zona de subducção não é isso que acontece. O que acontece é que a placa que subducta (o slab) é puxado, ou sugado se quiserem, para o interior do manto devido ao seu próprio peso (imaginem puxar uma folha). Isto tem um efeito interessante e contra intuitivo. A placa que subducta sofre muitas vezes extensão junto à fossa, gerando-se falhas normais. A própria placa cavalgante muitas vezes sofre extensão, levando à geração de bacias de ante-arco e de retro-arco bordejadas por falhas normais. As falhas normais junto às fossas veem-se muito bem na batimetria e na sísmica de reflexão. Outro fator que contribuí para esta extensão junto à fossa tem a ver com o dobramento da própria placa que subducta. Se dobrarmos um pedaço de plasticina, esta vai gerar fendas extensionais. Acontece o mesmo quando dobramos uma placa. Concluindo. Apesar de nas zonas de subducção o movimento ser convergente, geram-se muitas vezes falhas normais, extensionais. Algo semelhante pode acontecer nas zonas divergentes. O ridge push empurra a placa a partir da dorsal, mas se placa for travada nalgum sítio, o ridge-push pode causar compressão no interior da placa. Reparem que push significa empurrar, e que pull significa puxar (e se puxarmos um pouco de plasticina esta vai sofrer extensão, e não compressão). Ou seja, o ridge push das zonas divergentes pode dar origem a estruturas compressivas (dobramento e falhas inversas) e o slab pull das zonas convergentes pode causar extensão (falhas normais). Eu sei que isto pode ser difícil de encaixar... mas é o preço que temos de pagar quando passamos a pensar na tectónica de placas em termos dinâmicos, e não apenas em termos geométricos e cinemática. Por isso, nunca confundam convergência com compressão. Fonte da imagem: Wang et al. (2022) #geologia
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