O Arcaico corresponde ao éon que teve início há 4000 Ma e estendeu-se até aos 2500 Ma. Durante este éon, ocorreram algumas das mudanças mais fundamentais pelas quais o nosso planeta passou e sem as quais não estaríamos aqui hoje. Estas incluem a formação e o crescimento dos continentes, o surgimento de um regime tectónico (provavelmente diferente do que temos hoje), e o aparecimento da vida. O termo Arcaico significa "início" ou "origem", uma vez que o Arcaico costumava ser o primeiro éon, antes de o Hádico ter sido (recentemente) introduzido. É provável que no Hádico e no Arcaico a Terra não tivesse uma tectónica de placas como hoje a conhecemos. A compreensão dos regimes tectono-magmáticos da terra primitiva estão na ordem do dia e constituem uma das principais linhas de investigação de muitos geoscientistas. A maioria dos autores pensa que já existiria no Arcaico algum tipo de movimento da superfície do planeta, uma tectónica lenta, mas sem haver um mosaico global de placas tectónicas com fronteiras interligadas e bem definidas. Outros autores, por outro lado, argumentam que a tectónica de placas pode ter tido início no Arcaico. Estudos recentes sugerem que ocorreu uma mudança importante entre os 3800 e os 3600 Ma, que levou à formação de proto-zonas de subducção e reciclagem (pelo menos parcial) da litosfera e que, há 2500 Ma, já existiria um género de tectónica de placas. No entanto, isto ainda é disputado, e outros autores defendem que a tectónica de placas, como hoje a conhecemos, surge apenas há ~1000 Ma. O debate é complexo e está em curso, e está, em parte, relacionado com a forma como definimos “tectónica de placas” e se usamos uma definição mais ou menos restritiva (aqui também não há acordo). Existem também propostas de que a tectónica de placas poderá ter tido um início precoce e depois ter passado por um período de quiescência (o Boring Billion, ou o Mil Milhão Aborrecido em português, entre os 1800 e 800 Ma), após o qual terá recomeçado. Também há um debate acerca de qual seria, no Arcaico, a extensão (em termos de área) da crosta continental, embora seja certo que alguns fragmentos continentais tenham emergido durante este éon. Alguns autores chegam mesmo a argumentar que os primeiros "supercontinentes" podem ter-se formado durante o Arcaico: Vaalbara aos ~3600 Ma, Ur aos ~2800 Ma e Kernoland aos ~2700 Ma. Pensa-se que no Arcaico os continentes representavam menos de 15% da superfície do planeta, em comparação com os 30% atuais. Nesta fase da história da Terra, as marés oceânicas eram também muito mais energéticas devido à proximidade da jovem Lua. Podemos apenas especular acerca de como seria o clima da Terra no Arcaico, mas provavelmente seria irreconhecível. A temperatura média à superfície seria bem mais quente, em torno dos 40 °C (hoje é cerca de 15 ºC), e havia muito pouco oxigénio livre. Isso significa que não havia ainda uma camada de ozono, e a superfície do planeta estaria fortemente exposta à radiação UV. Isto poderia, em parte, ser contrariado pelos elevados níveis de enxofre na atmosfera, que poderiam absorver parte da radiação UV, mas ainda assim, a superfície da Terra seria essencialmente inóspita. No Arcaico já existia vida nos oceanos. Porém, é incerto quando exatamente esta terá surgido. Existem algumas evidências de que pode ter sido no Hádico, há cerca de 4100 Ma. Estas evidências baseiam-se no facto de se ter encontrado carbono, potencialmente biogénico, em zircões desta idade. No entanto, só há evidências fortes da existência de vida por volta dos 3700 Ma: grafite biogénica encontrada em sedimentos metamorfizados na Gronelândia Ocidental. Os fósseis mais antigos resultam da fossilização de mantos microbianos constituídos por bactérias e rochas cimentadas, os estromatólitos, encontrados na Austrália com uma idade de 3480 Ma (é de notar que ainda hoje existem estromatólitos!). O desenvolvimento da fotossíntese dá-se por volta dos 3500 Ma e os primeiros organismos terrestres podem ter-se desenvolvido por volta dos 3200 Ma. Também não se sabe onde a vida surgiu. Algumas teorias sugerem que a vida pode ter surgido associada a fontes hidrotermais, nos fundos oceânicos do Hádico ou do Arcaico, alimentadas por produtos químicos e calor proveniente do interior da Terra, ou em pequenas fendas nas rochas formadas por vulcanismo e/ou impactos de meteoritos, que as protegeriam de um ambiente essencialmente hostil. Outras hipóteses propõem que a vida pode ter-se desenvolvido nas margens dos continentes, associada a zonas de maré que permitiria que os elementos químicos presentes na água do mar fossem misturados pela ação das ondas (repetidamente concentrados e diluídos), promovendo as reações químicas necessárias ao aparecimento da vida. Porém, a vida no Arcaico estava limitada a organismos unicelulares (procariontes) e incluía principalmente bactérias e outros organismos do domínio Archaea. É ainda de notar que as cianobactérias que viveram durante o Arcaico foram essenciais para a criação de uma atmosfera oxigenada característica dos éons seguintes, o Proterozoico e o Fanerozoico. #geologia Partes do texto adaptadas de: Duarte, J.C., 2023. A timeline of Earth's history. In Green., M., Duarte, J.C., eds, A Journey Through Tides, 117-131. Elsevier Books. https://doi.org/10.1016/B978-0-323-90851-1.00010-8 Imagem: Como seria Terra no Arcaico. Fonte: NASA/Goddard Space Flight Center/Francis Reddy
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